(...)
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
(...)
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fernando Pessoa, em "Ode triunfal"
Resumindo e concluindo, as máquinas estão gastas, falta óleo e sobretudo afinação!
1 comentário:
Um bom Álvaro de Campos. Urbano.
Na nossa prosa - Ser completo como uma máquina! Ao contrário do Homem que se socorre de avaliações prévias, a máquina não receia os obstáculos. Avança. Utilizando a sua energia disponível. No limite, se necessário. Com mais ou menos ruído. Propõe-se vencer. Sempre.
grrrrrrrrrrrrrr, até os comemos!
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