sábado, 5 de outubro de 2013

Vitória dos 'Outros' - 12 - 8

(...)

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! 
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 
Em fúria fora e dentro de mim, 
Por todos os meus nervos dissecados fora, 
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! 
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 
De vos ouvir demasiadamente de perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! 

(...)

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! 
Ser completo como uma máquina! 
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! 
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, 
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento 
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões 
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! 

Fernando Pessoa, em "Ode triunfal"


Resumindo e concluindo, as máquinas estão gastas, falta óleo e sobretudo afinação! 


1 comentário:

@ filipe disse...

Um bom Álvaro de Campos. Urbano.
Na nossa prosa - Ser completo como uma máquina! Ao contrário do Homem que se socorre de avaliações prévias, a máquina não receia os obstáculos. Avança. Utilizando a sua energia disponível. No limite, se necessário. Com mais ou menos ruído. Propõe-se vencer. Sempre.
grrrrrrrrrrrrrr, até os comemos!